segunda-feira, 14 de maio de 2012

COERÊNCIA EXPLÍCITA

Uma das exigências bíblicas para o exercício do presbiterato, é a aptidão para o  "ensino". Do ancião, que é um pastor no sentido de cuidador de ovelhas, fazedor de opinião, eleito pela comunidade local a quem compete a identificação das capacitações espirituais dadas por Deus conforme instruções bíblicas (Atos 14:23; Atos 20: 17 a 35; Tito 1: 5; I Tm.3 : 1 a 7 e I Pedro 5: 1 a 4) , espera-se , no mínimo, intervenções ponderadas com lastro na revelação especial. Não é admissível um presbítero que não tenha condições de ministrar ensino com os conteúdos profundamente enraizados na Palavra de Deus.  A experiência não se equipara, não ladeia ,  e jamais deverá preponderar sobre as verdades eternas. Aliás , a espiritualidade construida com base empírica, costuma "dar de ombros" à inerrância do texto sagrado . É exatamente por ignorância  da Palavra de Deus, e , majoritáriamente por interesses subalternos, que vemos o que vemos por aí nos diversos espaços religiosos espalhados por esse Brasil. Depois de mais de cinco décadas participando de dezenas de seminários, diversos concílios e congressos, vendo em alguns desses encontros politicagem, manobras eleitoreiras, malidicência e arroubos de indivíduos auto-encantados exercendo domínio sobre as ovelhas de Cristo, já era para eu ter me acostumado com líderes que optaram por desobedecer o comando bíblico registrado em Eclesiastes 5: 1 e 2 .  As transgressões são comuns aos que gostam de "falar pelos cotovelos" (PV.10: 19) . Contudo, ainda me pego escandalizado com a insensatez de alguns . Confesso essa minha "infantilidade". Ainda fico ruborizado quando ouço "mestres" advogando besteiras frente a uma comunidade indefesa, ameaçada pela "autoridade" clerical de alguns. Peco ! Peco por ser limitado em compreender a lógica mercantilista que impera na maioria dos espaços religiosos . Não consigo ver no Deus da Bíblia um Soberano que só move Sua mão quando devidamente azeitada por um punhado de Reais . Algum tempo atrás fui cultuar a Deus com outros irmãos. De acordo com o juizo de alguns, a liturgia não estará  completa se não houver o denominado "momento da oferta". Sendo "oferta", deveria  ser coroada por atos de voluntariedade . Não é o que acontece. Geralmente as ovelhas são "ameaçadas" com textos cuidadosamente pinçados da velha aliança. Postou-se à frente daquele momento do culto (ofertório) um ancião. Leu Lamentações 3: 22 e 23 . Em sua chamada "ministração", com voz impostada, asseverou :
1  -  "O princípio básico da fidelidade cristã são os dízimos e as ofertas";
2  -  "O ponto alto da vida do cristão é a entrega dos dízimos e das ofertas";
3  -  "Ao entregarmos os dízimos e as ofertas, recebemos  bênçãos, não por misericórdia divina, mas por
        nosso merecimento".
Pensei em contraditá-lo publicamente, dada a insolência das afirmações . Deveria ter-lhe "tapado a boca" e repreender-lhe em público (I Tim.5:20) . Entretanto, pensei melhor, vi que aquele homem estava sendo sincero. Mais que sincero, estava sendo absolutamente coerente com a teologia que sua denominação defende. Como eu poderia impugnar a fala de um homem coerente ? Ele estava expressando o que sua comunidade defende, inclusive em seus dogmas. Quero aqui confessar  minha absoluta incapacidade de inteligir, como uma pessoa que é coagida por uma  "determinação" pode agir ao mesmo tempo com "voluntariedade" . Aquela congregação  de santos convive pacificamente com essa dualidade. Entende que a entrega do dízimo é uma "obrigação" e ao mesmo tempo a chama de "contribuição", e "voluntária" para não contrariar o apóstolo Paulo (II Co.9: 7) .Quando aquele ancião disse o que disse , cumpriu-se o silogismo prático: "Se Deus exige dinheiro para liberar Seus favores, logo quando alguém dá o dinheiro, torna-se credor dos tais favores". Nesse caso, o  " favor"  divino  deixou de ser favor e passou a ser obrigação, e o ofertante receberá a contraprestação (bênção) exclusivamente por seu merecimento .  Aquele ancião estava demonstrando fidelidade canina aos preceitos ensinados por sua denominação . Aquele presbítero teve a coragem de escancarar, esbugalhar as entranhas da visão de reino daquela comunidade. Só me resta constatar que aquele homem desnudou o que pensa e defende aquela instituição sobre o que é, na essência, o cristianismo. Quanto a mim, continuo triste por não conseguir admitir sem repugnância, essa  COERÊNCIA EXPLÍCITA.
Que Deus tenha misericórdia de nós .