segunda-feira, 15 de agosto de 2011

COMO CRERÃO SE NÃO HÁ QUEM PREGUE ?

Até meados dos anos 60 havia no Brasil uma divisão clara entre tradicionais e pentecostais.
De uma lado haviam igrejas históricas (Batistas, Presbiterianas, Congregacionais e Metodistas) com suas liturgias frias e engessadas, sua ortodoxia centrada na sistematização da teologia clássica, majoritáriamente calvinista, e por estas razões absolutamente avessas a qualquer visão sobrenatural da causa de Cristo, fato êste que as tornaram aos poucos elitizadas e céticas quanto a qualquer conhecimento empírico. Do outro lado haviam as igrejas pentecostais, compostas de pessoas da camada mais simples da sociedade, lideradas por clérigos descompromissados com o estudo aprofundado do texto sagrado, avessos ao preparo acadêmico, baseando sua fé única e exclusivamente em experiências extra-bíblicas. A divisão era clara. Curiosamente, o que unia aquelas duas visões dos "crentes" da ocasião, era o entendimento claro e inequívoco do que era a "CAUSA DE CRISTO". Tradicionais e pentecostais pregavam o evangelho de salvação. A cruz nunca era escondida. O convite constante ao arrependimento e confissão de pecados era o centro das mensagens de ambas as facções. Controvérsias periféricas à parte, o foco não fora perdido. Raramente dos púlpitos emanavam mensagens que não tivessem o cunho evangelístico na melhor acepção da palavra. Exatamente por tal razão é que o evangelho ganhou força por este Brasil afora, fazendo crescer o número de crentes fiéis. A disseminação do evangelho nunca dependeu dos parlapatões e fanfarrões espalhados pelas centenas de espaços religiosos
criados nos dias de hoje. A diferença de produção entre os crentes tradicionais e pentecostais, ficou por conta , então, das classes atingidas. Enquanto os tradicionais alcançavam as elites, os pentecostais avançavam na maioria esmagadora de pessoas simples das periferias . Abstraidos os equívocos de ambos os lados, o que restava como fundamental, é que o evangelho estava sendo pregado como deve ser, condenando o pecado e apontando para a Cruz.
O tempo passou, os tradicionais foram recrudescendo suas posições dogmáticas, e os pentecostais foram se distanciando cada vez mais dos conteúdos da Palavra de Deus, em nome do que chamavam "liberdade no Espírito". Essa tal "liberdade" entre os pentecostais, propiciou o desmantelamento da boa ordem na estrutura eclesiástica, fazendo surgir o neo-pentecostalismo, liderado por dissidentes do pentecostalismo histórico que, a esta altura, já era visto como "tradicional". Os neo-pentecostais abandonaram de vez a pregação do evangelho, centrando sua mensagem nas necessidades materiais de seu público alvo. A estratégia é simples, mas funcional. As promessas de socorro do alto, de ajuda celestial e palestras motivacionais, alcançam maior adesão. Mais gente, maior arrecadação. Mais dinheiro, mais propaganda. Mais propaganda, maior adesão. Maior adesão, mais dinheiro. Êste é o círculo indisfarçável. O fim é o dinheiro e o meio são as promessas de benesses desde que haja o devido preparo feito com os "sacrificios" (dízimos e ofertas) .O sucesso foi tão grande desta fórmula, que a maioria das igrejas pentecostais históricas foi seduzida pelos encantos do antropocentrismo. A fórmula comum acabou sendo as famigeradas "campanhas" semanais, com vistas à satisfação dos anseios do público. A cruz foi esquecida. Jesus agora é um realizador de sonhos particulares, um tirador de enrascadas. Os antigos evangelistas deram lugar agora aos manipuladores da mão de Deus. Surgiram líderes "poderosos" capazes de abençoarem e amaldiçoarem quem quer que seja. "Controlam" a agenda do Espírito Santo. Mercadejam a fé sem o menor escrúpulo. Com inveja dos templos cheios, boa parte das igrejas tradicionais históricas, também trocaram a dureza do evangelho pelo "cristianismo pop", aquele dos "CDs" e da relação de troca(negócio com Deus). Portanto, a maioria das igrejas pentecostais, bem como a maioria das tradicionais, realizam hoje reuniões semanais absolutamente semelhantes, sem a menor preocupação em confrontar o perdido com seus pecados. É considerado um ministério bem sucedido, aquele que mantém o espaço religioso lotado. Espaço lotado rende cofre cheio. Essa é a lógica inconfessável. O principal ítem da avaliação de um ministério é , sem dúvida nenhuma, o quanto ele arrecada por mês .
Nos ultimos tempos, tem havido uma espécie de "retro-êxodo", um retorno às igrejas tradicionais por parte de alguns fiéis inconformados com a "molecagem gospel" que se instalou em muitas comunidades. As constantes promessas de benenesses vomitadas dos púlpitos encontro após encontro, acabam enjoando os mais atentos. Voltando às igrejas tradicionais, tais irmãos imaginam que voltarão aos conteúdos da fé cristã, fugindo assim dos lobos devoradores. Ledo engano ! O vírus do chamado "sucesso ministerial" já foi inoculado na maioria das lideranças, de tal forma que, mesmo que disfarçadamente, o antropocentrismo virou uma epidemia.
Não é preciso ser profeta para antever a derrocada dos modelos modernos tidos como evangélicos. Eles nunca tiveram nada mesmo a ver com as igrejas dos "crentes" de um passado não muito distante. Hoje (15.08.2011), a "Folha de São Paulo" publica uma matéria intitulada "SOBE O TOTAL DE EVANGÉLICOS SEM VÍNCULOS COM IGREJAS". Trata-se de uma matéria (dados do IBGE) que identifica o inicio da intervenção divina na história da igreja protestante brasileira. O Senhor resolveu dar um BASTA. A farra gospealizada que se sustenta às custas do sofrimento e da pele das ovelhas incautas, está prestes a acabar . O castelo de areia dos "crentes" modernos começou a ruir. O devaneio irresponsável dos mercadores do evangelho está se apagando . Às multidões que costumam frequentar os espaços religiosos em busca de satisfazer seus sonhos e projetos pessoais, nunca foi pregado o evangelho de salvação, aquele que exige arrependimento e confissão de pecados. As lideranças que também têm projetos pessoais absolutamente divorciados da "loucura da pregação", são as responsáveis pela produção da maior geração de homens e mulheres refratária à mensagem de salvação jamais vista na história de nosso país. Era uma catástrofe anunciada. Só individuos desonestos ou ignorantes das verdades eternas não se apercebiam disso .
Nesta tribuna, tenho a muito tempo denunciado a molecagem gospel que se infiltrou na maioria das igrejas outrora bíblicas (www.presbiteroivo.blogspot.com), como por exemplo nos textos "Falsos Profetas"-03.04.2011, ou "Mensagem Desmotivacional"-30.05.2011 .
Olhando para este triste quadro, sonho com o dia em que surgirá uma liderança que abomine a soberba e a metideza tradicional, que considere a ação do Espírito Santo como algo sobrenatural, mas que também rejeite a meninice dos rituais de "candomblé evangélico" e o besteirol da neurolinguística, voltando a pregar o evangelho da Cruz, aceitando a bíblia como ela é, com todos os dons e ministérios úteis para a expansão do reino de Deus,bem como todos os riscos e consequências próprias da mensagem cristocêntrica, que produz, necessáriamente, inimizade com o mundo .
Que Deus tenha misericórdia de nós .

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