sábado, 11 de junho de 2011

I R M Ã O S

Na periferias das grandes cidades parece que as pessoas são mais solidárias. Lá ainda há campos de futebol de várzea; ainda há quermesses; ainda há parques de diversão. E as rodas de amigos jogando baralho e dominó na frente dos bares, ainda acontecem com frequência. No meio do ano as festas juninas ainda são fatores de união do povo . Lá, na periferia, o abandono do Estado une as pessoas. As feiras livres são ponto de encontro. É comum vermos lá movimentos de solidariedade no dia das crianças, nos momentos de infortúnio ou no natal . Êste povo da periferia é mesmo gente muito boa. Lá (periferia), os espaços religiosos formam comunidades. A dor costuma unir as pessoas. O aperto nos ônibus e o abafado do metrô , fazem a semelhança dessa gente. Gente sofrida, humilde, trabalhadora, que usa o descanso do final da semana para rir, cantar, orar ou mesmo chorar juntos . Certa vez, em um desses bairros, um garoto aparentando uns doze anos de idade, carregava seu irmãozinho, paraplégico, de uns três aninhos , pendurado na cintura. Passeava, jogava bola, empinava pipa, jogava peão, tudo sem colocar seu irmãozinho no chão. Alguém, preocupado, certo dia lhe falou : "Ei, meu filho, põe esse menino no chão" . Ao que respondeu o garoto: "Não ! Irmão não pesa !" . É isso. Para o povo da periferia, "irmão não pesa" . O Cristianismo, aquele original, aquele do Senhor Jesus Cristo, era assim . Irmão não pesava . O Cristianismo que tem o "bom perfume de Cristo!" (II Co.2: 15) , que tem base bíblica, abomina qualquer tipo de afetação; rejeita terminantemente qualquer vislumbre de sentimento de superioridade entre os semelhantes (Fil.2: 3 ) . Foi assim até meados do século III , quando a esperteza de Constantino, jungida à ambição de cristãos ,já à época corrompidos, fez nascer uma nojenta distinção entre clero e laicato. Treze (13) séculos depois, o grito dos reformadores exigindo o retorno à visão bíblica do "sacerdócio universal dos crentes"(I Pedro 2:5; 2:9;Apoc.1: 5 e 6; 5: 9 e 10), nivelou e identificou novamente os verdadeiros discípulos de Cristo . De novo, todos nos tornamos "irmãos" . "Irmão" quer dizer, igual . O Senhor Jesus Cristo chamou os salvos de irmãos (Mt.12: 46 a 50) . Paulo escrevendo as suas cartas chamava os membros da igreja de irmãos (Gal.1: 1 e 2; Col.1: 1 e 2...).Pedro chamou a Paulo de irmão (II Pedro 3: 15) . É, pois, maravilhoso saber que todos os crentes são "irmãos" em Cristo Jesus . Não há diferença de "unção", mas de "função". Todos no corpo (igreja) têm igual valor (I Co.12) . Entretanto, vivemos dias de um "cristianismo" ufanista, antropocêntrico . O triunfalismo material, alardeado dos púlpitos, exige a geração de autoridades eclesiásticas com poderes excepcionais. Nasce então a figura de homens e mulheres poderosos, "capazes" de perscrutar os desígnios de Deus, e "alterar" com uma prece os destinos de pessoas infelizes . Reforçou-se novamente o entendimento de que Deus criou uma casta de seres superiores, O CLERO. Nesta visão, os de colarinho clerical (liderança) são intocáveis; seriam "ungidos de Deus" . Foi posto assim um abismo intransponível entre clero e laicato. Cada denominação , para não perder o bonde da história, tratou de exponenciar seus ícones . R.R.Soares saúda assim sua igreja: "OI PESSOAL": Waldemiro Santiago chama seus adeptos de : "OI GENTE"!; Edir Macedo dirige-se a seus liderados com a famosa frase: "MEU AMIGO, MINHA AMIGA...". Há líderes que chegam a chamar suas ovelhas de "GALERA". Êstes, antes de serem "moderninhos", são na verdade ignorantes. Uma simples olhada no significado do vocábulo "galera" revelará que tais líderes consideram o povo como seus escravos . Isso é um absurdo . Abstraída e perdoada a mediocridade do tratamento, posto que a ausência da boa educação formal e a evidente falta da cristã, podem ter decorrido de causas alheias à vontade dos clérigos, o que salta à vista e causa repugnância , é o entendimento subjacente de uma superioridade espúria, inadmissível na Igreja do Senhor Jesus . Até líderes fora da mídia, sem sucesso mas em busca dele, evitam chamar sua igreja de "meus irmãos" . Por quê ? Arrisco uma resposta, fazendo minhas as palavras do Dr.C.I.Scofield :
"Podemos afirmar seguramente que os judaizantes da igreja, só por si, têm impedido o seu progresso, pervertido a sua missão e destruido a sua espiritualidade em maior escala do que todos os outros males juntos. Em vez de andar no caminho indicado da separação do mundo e seguir a Jesus segundo a sua vocação celestial, a igreja tem usado passagens da Escrituras, que só dizem respeito aos judeus , para justificar a sua adaptação à presente civilização, a aquisição de fortunas fabulosas, à construção de igrejas (templos) magníficas, a divisão em clérigos e leigos dos que são iguais na fraternidade cristã" . (www.irmãos.net) . Êste distanciamento das verdades eternas presente em boa parte da igreja moderna, é sem dúvida o grande responsável pela baixa qualidade da visão missionária . As comunidades não têm a mínima idéia de sua razão de ser. Nada sabem sôbre o "ide". Tornaram-se meros clubes fazendo uma festinha todo fim de semana. Tudo é planejado para agradar os sócios desse "clube" que, para continuar funcionando, exige a famigerada "fidelidade" e até o "sacrificio" de seus sócios. Quero continuar fazendo parte dos "7.000 que não dobraram os seus joelhos a Baal", e também enfatizar que os adeptos da teologia da reposiçao, seguramente não fazem parte da nova aliança em Cristo Jesus (Heb.8:13; 9:15...) .
Que Deus tenha misericórdia de nós .

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