"FELIZ AQUELE QUE LÊ"

Quando eu era menino, de vez em quando eu escutava meus pais dizendo com ar de respeito: "fulano de tal tem leitura!" .Essa quase reverência que meus pais faziam às pessoas que, segundo eles, "tinham leitura", revelava um sentimento nutrido pela maioria esmasgadora das pessoas de nossa sociedade . Os letrados são pessoas mais respeitadas, em todos os meios. Por "letrados", entenda-se os que passaram anos nos bancos das escolas. Mais que isso, são considerados "letrados" , pelo senso comum, as pessoas que, além de terem passado pelas escolas, têm vocabulário extenso e habilidade na comunicação com as massas. É interessante notar que, também nos espaços religiosos, os falantes de vocabulário extenso, adquirem grande respeitabilidade entre os fiéis. Fazedores de opinião, hábeis no falar, conduzem rebanhos inteiros para onde querem, produzindo assim uma espécie de "catalepsia espiritual". A manha adquirida e posta em prática com a construção gramatical adrede elaborada, paraliza o salutar juizo de investigação que era de se esperar dos fiéis (Atos 17:11) . A partir daí, fortunas são adquiridas, subtraidas da pele das ovelhas incautas. No meio dos crentes isso é comum. Jatinhos, mansões , canais de televisão, impérios empresariais, rádios, denominações eclesiásticas com dezenas de catedrais e contas em paraisos fiscais, são o resultado da expectação da benesse divina prometida pela astúcia dos homens "de leitura", que na verdade não passam de canastrões espirituais. A mídia está cheia deles. Quero lembrar que o escritor sagrado tem como feliz não apenas o que lê, mas também o que "ouve" e "pratica" as palavras do livro santo (Apoc.1:3). Aqui é preciso recordar que o evangelho foi espalhado por êste Brasil querido, não por falastrões engomados, missionários do asfalto moradores nos condomínios de luxo, mas por gente simples dos sertões e dos recantos esquecidos .Gente cujo vocabulário não ultrapassa o balizamento do texto sagrado; gente identificada pelo escritor sacro (Sl.25:9; Mat.11:25; I Co.2.13 e 14). As "cruzadas", os "congressos", os "eventos" que vemos por aí prometendo "fôgo para o Brasil", não passam de "shows" alavancados pela gula do mercado fonográfico gospel, objetivando a satisfação de projetos megalomaníacos pessoais de parlapatões. Nada têm a ver com a "causa de Cristo" e o estabelecimento de Seu reino. A leitura que é feita com as lentes do Espírito Santo, graças a Deus, produz a verdadeira igreja. Aquela cujas portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt.16: 18) . Evidentemente, a simplicidade ensinada por Cristo, não exige necessáriamente o afastamento das academias. Entretanto, o saber, quando vem do alto, distribui bênçãos sem afetação. O homem que busca a sabedoria da parte de Deus, nunca tem em evidência os seus próprios interesses (I Co.13: 5). Servir, é o objetivo do crente "letrado em Cristo". O "letrado em Cristo" não inventa moda para ter popularidade e como decorrência "obtenção de lucro" (II Pedro 2: 3; Fp.2:4) ; não usa de pirotecnia ou misancene sem correspondente bíblico . O "letrado em Cristo" sabe que o evangelho é coisa simples (II Co.11: 3) , que não tem "vodu", e que não pode ser transmudado em "candomblé evangélico" . A limpeza, a clareza, a transparência do crente em Cristo, decorre da leitura simples do texto sagrado. Simples assim ! Não há nada de misterioso, oculto, secreto, esquisito, lúgubre, na comunhão dos santos. As manifestações sobrtenaturais de Deus são recebidas pelo crente com aberta naturalidade e sem reinvindicação de créditos. Estou tratando da felicidade de quem lê . A leitura atenta e honesta do texto sagrado, provoca a ação iluminadora do Espírito Santo. Como exemplo, e apenas como exemplo de leitura atenta e honesta, quero registrar a presença do Pr.Samuel Coelho em uma de nossas reuniões (21.06.2011). Naquela oportunidade aquele jovem pastor, leitor atento e honesto, pregou sôbre a "unção" (I Jo.2: 18 a 20). Enfatizou que a "unção significa a separação para o serviço cristão". Portanto, ligada ao processo de santificação. Há fartura de estudos dando conta de que na Antiga Aliança eram ungidos os sacerdotes, os reis , os profetas e coisas. Na Nova Aliança, não existe na comunhão dos santos a sonhada divisão das ovelhas do Senhor Jesus em "ungidas" e "não ungidas". Todos nós somos "UNGIDOS DO SENHOR", em Cristo .O Sacerdócio , portanto, é universal (I Pedro 2: 5) . Todo salvo por Jesus torna-se ungido, isto é, separado para um serviço. Êste serviço deve contribuir para edificação do corpo (igreja- I Co. cap.12) . Então, não existe crentes não ungidos, mas sim crentes com funções diferentes uns dos outros. Essas funções são os dons concedidos pelo Espírito Santo de Deus aos crentes com vistas ao prosseguimento da causa de Cristo e o estabelecimento de Seu reino. Quase todos os idiomas têm detalhes interessantes. Por exemplo, uma palavra grafada de modo diferente pode significar a mesma coisa: "flexa ou frexa". Outras vezes palavras grafadas da mesma maneira podem significar coisas diferentes: "bárbara=rude , cruel, desumana//bárbara=magnífica, estupenda, ótima". Outras vezes palavras grafadas de maneira diferente, porém significando a mesma coisa: "aipim/macaxeira" . Nêste ultimo exemplo, podemos ver que o "aipim ou macaxeira" , embora seja uma raiz da família da "mandioca", não deve ser confundido com a "mandioca" propriamente dita, que, meio amarga, é venenosa e só serve para fazer farinha. Na língua grega, acontece o mesmo. Os livros do Novo Testamento foram originalmente escritos em Grego Koiné. O estudo dos recursos linguísticos, da técnica utilizada; a investigação dos papiros do sec II e III d.C , dos Unciais , etc., é muito enriquecedor . Porém, para este momento, basta sabermos da importância de se investigar os textos na lingua original. Sem paixões, sem forçação de barra, sem malabarismos inconsequentes, devemos examinar com cuidado a utilização da palavra "UNGIR" na Nova Aliança. Na Nova Aliança não há mais unção de objetos, sacerdotes, reis ou profetas. O exame cuidadoso do Novo Testamento vai mostrar que restou apenas a UNÇÃO DE ENFERMOS. Unção com fins espirituais é estranha à Nova Aliança . Para nós, crentes, não existe o SACRAMENTO DA UNÇÃO . Ao examinar o Novo Testamento grego vemos duas palavras definindo o ato de UNGIR : "ALEIFW" (Aleipho) e "XRÍW" (Chrio)

*"Xristov" (Christos) , que é o Cristo ungido de Deus, é derivado de "xríw" .
Para a estrutura da língua (grego koiné) , a palavra "aleipho" indicava uma ação corriqueira de ungir, sem conotação espiritual. Já a utilização de "chrio", indicava ungir com ação espiritual . Examinando o texto grego podemos encontrar "aleipho" em : Mat.6:17; Mc.6:13; Mc.16: 1; Lc.7:38 ; Jo.11:2; Jo.12: 13; Tg.5:14) . Encontramos "chrio" em: Lc.4: 18; Atos 4: 27; Atos 10: 38; II Co.1: 21; Heb.1: 9) .
Não existe, portanto, "unção de ousadia", "unção de conquista", "unção de multiplicação", "unção de emprego", "unção de passar no vestibular"; "unção do riso", "unção dos quatro seres", "unção do leão", "unção da bebedeira espiritual", "unção da bailarina", etc, etc. etc. Unção não é poder mágico . O verdadeiro "candomblé gospel" que vemos por aí, padece de leitura atenta e honesta . Repito, todo salvo pelo Senhor Jesus é ungido pelo Espírito Santo para realizar algum serviço em beneficio do corpo (igreja) . O azeite (Sl.92: 10), o ungüento (Jo.11: 2), os óleos curativos (Lucas 10: 34), aplicados na cabeça (I Sam.10: 1) , no rosto (Sl.104: 15), sôbre as feridas (II Rs.20: 5 a 7) ou nos pés (Lc.7: 38) , na Nova Aliança, resumiu-se como instrução a ser praticada, ao determinado em Tiago 5:14: UNÇÃO PARA CURA DE ENFERMOS. Lá (Tg.5: 14), parece que o autor sagrado fala de um enfermo dentre nós crentes. Além disso, parece que Tiago trata de um crente enfermo que está deitado . Isso parece nos indicar a seguinte cena: um irmão nosso na fé está doente, deitado no hospital ou em casa; o pastor que é um presbítero (I Pedro 5: 1; Atos 20: 17 a 38) chama os demais, vão até o local onde está o enfermo, fazem orações de confissão de pecados, ungem o enfermo com óleo em nome de Jesus, e a oração da fé "salvará o doente" (Tg.5:15) . Que vocábulo foi utilizado por Tiago (Tg.5: 14) ao dar-nos a instrução para UNGIR o enfermo ? R= "Aleifw" = "Aleipho"
A palavra "aleipho", relembro, indicava uma unção sem conotação religiosa. Portanto é lícito concluir que se tratava de uma unção com fins medicamentosos. Talvez, por tal razão, foi que o irmão do Senhor Jesus (Mc.6:3), pastor da igreja de Jerusalém (Atos 15:13), tenha deixado escancarado quem salva e quem levanta o doente : "E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará..." (Tg.5: 15) . Não há, portanto, espaço em uma investigação honesta, para firulas espirituais a pretexto de conceder caráter transubstancial à unção com óleo, como sendo um agente mágico proveniente de poderes especiais que teriam sido dados por Deus misteriosamente a homens selecionados. Foi criado um mercado de "manipanço gospel", para atender à volúpia espiritual de lideranças interessadas, onde é oferecido chifre para colocar óleo, óleo em spray, etc.(www.oleodauncao.com.br) . Os espaços religiosos estão repletos de pessoas esperando a hora da borrifada benta, ou pelo menos da lambuzada na testa com o sinal da cruz, numa espécie de sacramento capaz de solucionar todo e qualquer tipo de problema. Isso é triste ! A mensagem da cruz foi substituida por sessões de "benzimento gospel" sob fundo musical produzido para esse fim . Sei que há entre nós irmãos simples, às vezes analfabetos funcionais, que vivem repetindo frases feitas do tipo: "Vamos saquear o inferno..." e coisas assim. São vítimas desse cristianismo gospealizado intencionalmente infiltrado em nossas comunidades. Das lideranças honestas, entretanto, espera-se dedicação ao ensino (Rm.12: 7) , e especial atenção à instrução do apóstolo Paulo: "Persiste em ler..." (I Tm.4: 13) . Muito embora não haja entre os salvos a categoria de "super-crentes" , ou mesmo grupos seletos reprodutores de bênçãos, vemos no Novo Testamento que a unção com fins religiosos foi substituida pela imposição das mãos. Bastaria, portanto, os responsáveis pela condução das ovelhas do Senhor, sem precipitação, abençoarem as pessoas com a imposição das mãos, que é ato sério, com implicações e reflexos positivos na vida dos crentes. Isso não prejudica em nada a autoridade daqueles que nos lideram . Aliás, nós, ovelhas , eternos estudantes das verdades eternas, reconhecemos que devemos obediência aos que nos presidem no Senhor. Reconhecemos que estes homens foram separados entre milhares para nos abençoar, cuidando de nós em Cristo . Isso inclui as mais variadas necessidades que temos, inclusive as físicas . Agradecemos a Deus sempre quando um homem desses , não só impõe suas mãos sôbre nós, mas também quando nos ministra o santo ensino. Louvado seja Deus pela existencia desses verdadeiros anjos do Senhor ! Apesar de meu lamento pela constatação do que estão fazendo com a igreja do Senhor, me regozijo por saber que Deus ainda tem muita gente séria operando na pregação do evangelho. Louvo a Deus por ter me colocado numa comunhão de santos presidida por homens sérios, incapazes de negociarem os conteúdos da fé cristã pelos encantos da popularidade .
A atenção constante para não desviarmos a rota na caminhada até à Jerusalém Celestial continua a mesma : Persistamos "...EM LER..." (I Tm.4: 13)


"BEM-AVENTURADO AQUELE QUE LÊ..." (Apoc.1: 3) .
Que Deus tenha misericórdia de nós !