quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

" A BÍBLIA, ORA A BÍBLIA!"

Vivemos em um tempo de exaltação da vulgaridade, inclusive dentro dos espaços religiosos. Lideranças irresponsáveis transformaram o cristianismo em um movimento de cantoria. O que no primeiro momento parece simples ignorância dos conteúdos da fé cristã , é na verdade parte de uma estratégia mercantilista que objetiva prender gente manipulável, que representa mais dinheiro nos cofres. A palavra "ortodoxia" foi satanizada. Tudo é relativo. A experiência da comunidade relativizou os dogmas, de maneira que ela é quem dita se a teologia funciona ou não para aquele grupo específico. Aliás , os "poetas" da música gospel indicam os rumos a serem seguidos. É mais que uma uniformidade litúrgica. Observa-se uma teologia volátil que cabe em todos os espaços religiosos, inclusive no católico carismático, irmão caçula de algumas comunidades pentecostais. Não há dúvidas de que a fartura de "profanos" faz cumprir a profecia paulina (II Tim.3:2) . É interessante ver a precisão com que o lingüista, de maneira peremptória, define o verbo "profanar": "Tratar com irreverência as coisas sagradas" . O problema surge exatamente quando fica a critério de uma congregação particularmente considerada, a designação do que deve ou não ser rotulado como "irreverência". Refletindo sobre esse tema, me recordo do romancista indiano Salman Rushdie . Ao escrever sua obra "Versos Satânicos" , onde deliberadamente avilta o Alcorão, livro sagrado dos Islamitas, escreveu também sua sentença de morte: "Informo o orgulhoso povo muçulmano do mundo , que o autor dos versos satânicos, livro que é contra o Islã, o Profeta e o Alcorão, e todos os que estão envolvidos na publicação e estavam conscientes do seu conteúdo, são condenados à morte".(Aiatolá Khomeini) . Há uma recompensa de US$.2,5milhões para quem matar Salman Rushdie. Para o Islã, o Alcorão é sagrado. Sagrado significa: "Respeitável, inviolável, que não se pode desdourar, aviltar..." . Nos anos 70 surgiu um espetáculo musical chamado "hair" , onde a profanação de valores cristãos resultaram em enorme campanha da cristandade contra aquela obra, considerada como proveniente do inferno. A Igreja Católica Romana foi a que mais se engajou na luta contra as heresias presentes naquela peça. Para os cristãos católicos romanos, há uma diversidade enorme de coisas sagradas : batismo, crisma, penitência, eucaristia, unção de enfermos, ordem e matrimônio. Há ainda símbolos, relíquias, e outros sinais considerados sagrados, cuja violação implica em excumunhão imediata. Para nós, protestantes, a má interpretação do que seja a"liberdade que há em Cristo" (Gal.5:1; II Co.3:17 ; João 8: 36) , lançou-nos no limbo propenso ao menoscabo de tudo em nome da alegria e informalidade. É como se fosse pecado sequer considerar a possibilidade da existência de um ato solene. Há um entendimento subjacente de que o Espírito Santo não só abomina formalidades, como induz e santifica trivialidades. A teologia liberal, fazendo coro com os anseios populares, tem poluido nossas academias formadoras de líderes , ensinando que "o cristianismo não é a religião de um livro" . Mais que um preconceito, criam uma repulsa nos alunos a tudo que possa induzí-los a pastorear rebanhos a partir do conhecimento e regras ditadas por um livro. O entendimento é que o livro deve ser apenas um referencial, e não uma norma absoluta. Assim os crentes modernos têm caminhado, desconsiderando consciente ou inconscientemente, a bíblia como "texto sagrado". É flagrante que o escopo das mensagens indica que "a ferro e a fogo não dá...palavras e palavras se perdem no ar, tão perto dos seus olhos e longe dos seus caminhos..." . É essa teologia do Zezé Di Camargo que tem sido abraçada com gosto . Muitos continuam achando o discurso da bíblia "DURO" (João 6:60) . Algumas comunidades se multiplicam à margem do texto sagrado, e outras considerando a bíblia como tendo sido escrita a lápis. Tudo é permitido, e nesse "vale tudo", achincalhamento e sacralidade é apenas uma questão de ótica. Outros há que, de mãos dadas aos que têm baixo nível de disposição mental para consultar a vontade de Deus presente de forma única nas sagradas linhas, aliciam analfabetos funcionais e disléxicos. Seria menor o dano caso fossem ao menos ouvintes atentos, porquanto o escritor sagrado considera também felizes os que ouvem (Apoc.1:3) . Nesse quadro dantesco desenhado, facilmente podemos observar nas centenas de espaços religiosos espalhados por aí, a combinação desastrosa dos defeitos mencionados. Soma-se ao caos estabelecido, uma liderança mormente interessada em objetivos de difícil confissão, absolutamente divorciada daqueles do Reino de Deus. Desde o Concílio de Trento (1545 a 1563) , aquele da "contra-reforma", tem havido aqui e acolá interesses subalternos em diminuir a relevância das Escrituras Sagradas . Alguns, cuja aparência usa a máscara da piedade (II Tim.3: 4 e 5) , ousam receitar apodos à Escritura Sagrada. Coisa do interesse da igreja medieval tem sido copiada por crentes desavisados. Quero alardear, com toda força dos meus pulmões, quantas vezes eu puder que, nem a experiência do crente, nem as tradições, nem a razão, nem a criação, nem as relíquias, nem as revelações extra-bíblicas, nem outra coisa que proceda de qualquer possuidor de respeitados carismas, pode se comparar , completar ou ser anexada à Escritura Sagrada como fonte de autoridade para que o crente tome decisões. A Palavra de Deus, assim considerada os 66 livros da Bíblia Sagrada, nossa única e infalível regra de fé e prática, distingue-se por completo da lógica humana, prescindindo de supedâneos, lastros culturais ou empíricos, destinados a validá-la . Hodiernamente, as comunidades , a seu arbítrio, acostumaram-se a sacralizar o profano e profanar o sagrado . Nesse caso, com manha, fazem uso da própria revelação especial utilizando-a como lastro. Para justificar a mistura entre coisa sagrada e coisa profana, dizem que o Senhor determinou a Josué e ao povo judeu que destruissem todo o despojo de Jericó, poupando apenas a Raabe, porque tudo ali era "anátema" . Ordenou , contudo, que se poupasse também a prata , o ouro e os vasos de metal porque eram "sagrados ao Senhor" e iriam para o tesouro (Jos.6:19) . O vocábulo hebraico utilizado foi "sharam", que pode significar tanto coisa amaldiçoada, como coisa sagrada . Ou seja, nas mãos de Acã o ouro e a prata eram "amaldiçoados", mas nas mãos de Josué, eram "sagrados". Essa dualidade tem sido considerada como consagração do arbítrio nesse particular entre os crentes modernos. Assim pensando, e assim agindo, deslustram e aviltam a olhos nús, qualquer parte da revelação especial (bíblia), porque, no fundo de seus corações, não a consideram como SAGRADA .
Que Deus nos dê tempo e coragem para, com graça, mantermos o "Sola Scriptura" defendidos com o sangue pelos crentes do passado .

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