segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

SOSSEGAI , SOSSEGAI !

"Nenhum homem tem o direito de levar uma vida de tão grande contemplação a ponto de negligenciar o serviço devido a seu próximo, nem tem o direito de entregar-se de tal forma a uma vida ativa a ponto de esquecer-se da contemplação de Deus".(Agostinho)

"É perigosamente possível que a atividade não seja nada mais que um corre-corre atordoado em volta de um vazio central. Precisamos ter cuidado para não sentirmos que, se não estivermos de pé fazendo algo, o Senhor não estará atuando. Em muitas igrejas de hoje temos movimentação mas não unção". (J.Blanchard)

"Um dos maiores perigos da vida espiritual é viver em função de suas próprias atividades. Em outras palavras, a atividade não está em seu devido lugar como algo que você faz, mas torna-se algo que o leva a manter-se em movimento". (Dr.Martyn Lloyd-Jones)

"Estar sempre pregando, ensinando, falando, escrevendo e realizando obras em público é inquestionávelmente um sinal de zelo. Mas não é sinal de zelo segundo o conhecimento".(J.C.Ryle)

"Grande parte da atividade de muito obreiro cristão, é o túmulo de sua vida espiritual".(J.Vaughan)

"Deus não nos chamou para sermos operários agitados do Seu Reino, mas para amá-lo e amar ao próximo de todo o coração".(Ricardo Barbosa)

"Algumas vezes penso que seria melhor para a igreja se proclamássemos uma moratória de atividades durante cerca de seis semanas, e tão somente esperássemos em Deus para ver o que Ele está planejando fazer por nós". (A.W.Tozer)


Aos 56 anos de idade, depois de navegar pela vida como feirante, pedreiro, diretor de banco, minerador e garimpeiro, do muito que tenho visto, solidifico minha absoluta convicção de que a Palavra de Deus é de fato o nosso único e infalível manual de conduta. Nossas tomadas de decisões não podem ter outro guia seguro. Tenho construido casas, plantado jardins, pilotado aviões, garimpado pedras preciosas e administrado finanças. Tenho cantado hinos, trocado experiências com meus irmãos, e até, com minhas limitações de todos conhecidas, arriscado fazer uma hermenêutica que possa abençoar aos que eventualmente me ouvem. Ajudei minha mulher a conduzir meus filhos aos pés de Cristo, no temor do Senhor. Vi cumprir na minha vida a felicidade preconizada no Salmo 128:6 . Tudo isso, reconheço, são bênçãos vindas do Pai, manifestações de sua imensa Graça, como resultado de Suas eternas misericórdias. A fadiga decorrente de toda a minha movimentação no decorrer dos anos pesam-me, como acontece com todos os demais mortais. O gafanhoto já me é quase um peso (Ec.12:5) . A maravilha que vejo nisso tudo, é que Deus sempre esteve comigo. Aleluia! Em meus solilóquios, por vezes, investigo se de toda minha movimentação resultou em algum favor ao meu próximo, ou verdadeira adoração a Deus. Tivesse o enredo de minha trajetória sido mais calmo, resultaria em maior favor aos meus semelhantes, e maior louvor a Deus ? O fato é que o tempo passou e o desdobramento de minhas ações estão aí. Sei que o Criador é meu Pai, e como tal, quer o meu bem. Me sinto, depois de tudo, como aquele homem que estava atravessando o rio em uma embarcação, segurando nos ombros uma enorme mala. Faltou-me sensibilidade para colocá-la no chão do barco. Deus sempre cuidou de mim, e cuidaria da mesma forma mesmo se eu não tivesse corrido tanto. O vento é realmente impossível de ser alcançado. Hoje, é com esses olhos que considero quão sábios são as conclusões dos homens acima citados. Preciso reconhecer que eles têm razão. Fazem coro com a revelação especial(Bíblia) . Deus, nosso Pai, que nos garantiu comida, bebida e vestimenta (Mat.6: 31 a 34) , e que nos instrui a não nos preocuparmos com mais nada (Fp.4:6) , é o mesmo que diz como devemos ver a vida, e qual deve ser nosso procedimento frente a ela:
-alegrarmo-nos com o produto de nosso trabalho já ;
-bebermos o vinho com satisfação ;
-nos mantermos limpos e perfumados;
-nos vestirmos bem;
-gozarmos a vida com a esposa amada .
(Ec.3: 12, 13 e 22; Ec.9: 7 a 10 c/c Salmo 104: 14 e 15)

O puritanismo inglês difundido no mundo ocidental, chegou até nós com uma visão distorcida dos benefícios do Pai colocados à nossa disposição. Fomos adestrados de maneira a considerarmos como sendo pecado usufruir daquilo que Deus criou. Viver bem parece-nos ser sempre incompatível com a vontade de Deus. É como se o crente tivesse que optar , necessáriamente, pela tristeza, clausura e infelicidade. Sim, é possível ser feliz e alegre com pouca coisa. Não temos que viver com um nó na garganta, a pretexto de evidenciarmos grande profundidade espiritual. Não temos que nos envolver noite e dia, o tempo todo, com a movimentação frenética que nos ensinaram ser "serviço religioso". Não precisamos aplacar nossas consciências mediante a prática angustiante de rituais que consomem todo o tempo que sobra de nossa labuta diária, pensando que isso é "obra do Senhor". Tampouco reflexo algum terá na vida eterna qualquer ação cujo escopo seja não outro senão paparicar grupos seletos que se instalaram no topo das pirâmides eclesiásticas. Ha algum tempo atrás, conversei com a mulher de um líder, amigo meu. Ao observar que aquele homem não tinha mais tempo para cuidar das ovelhas confiadas a ele, de preparar seus ensinos com a profundidade necessária, de sequer ler um texto com mais de vinte linhas, perguntei à irmã: Por que ele se envolve em tantas atividades ? Ele realmente precisa fazer isso ? A resposta foi a seguinte: "Meu irmão, se ele não fizer isso, ficará queimado com seus superiores" . Precisamos reconhecer. Boa parte de nossas atividades eclesiásticas não tem resultado algum para o Reino, apenas aparentam ter alguma relevância. Essa teatralização é incompatível com nossa condição de filhos do Pai eterno. O dia em que os crentes modernos estiverem satisfeitos com o que têm; o dia em que os crentes modernos se satisfizerem em Cristo Jesus; o dia em que os crentes modernos entenderem que o cristianismo é relacional; o dia em que os crentes modernos resolverem compartilhar bens materiais e imateriais uns com os outros; então, muitos pregadores modernos irão à bancarrota. Falirão os mega-projetos pessoais dos fanfarrões gospel espalhados por aí. A miséria já não mais dará lastro ao ministério de muitos que vivem às custas da desdita dos crentes desinformados. Vejo hoje o cristianismo não como um conjunto de regras e rituais, cuja inobservação resultaria em infelicidade. Ao contrário, estou certo de que o inter-relacionamento dos crentes, com a solidez da comunhão harmônica, será o bastante para levar-nos a ter tempo para meditar, orar, compartilhar, aprender, gozar a vida, isto é, aproveitar os benefícios disponibilizados por Deus a nós, Seus filhos.
Que Deus nos ilumine.

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