sexta-feira, 13 de maio de 2011

MÚSICA "GOSPEL"

Quando leio Judas em sua epístola dizendo que tinha grande desejo de escrever aos "amados" acerca da nossa "salvação comum", mas que teve , por força das circunstâncias, que mudar seus planos para concitá-los a "batalhar pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos" (vs.3) , me sinto exatamente como ele. Meu desejo era falar das maravilhas do amor de Cristo, da fé e da esperança dos crentes. Entretanto, quando vejo o que estão fazendo com a Igreja do Senhor Jesus, minha vontade é tornar-me um revolucionário, pegar um "chicote" e virar as mesas dos mercadores do evangelho.(Jo.2: 14 a 16). Mas falta-me a coragem de Jesus e o ânimo de Judas. Já fui chamado de insubmisso, de rebelde, de santarrão, de Sambalate, de conservador, de museu, de xiita, de fundamentalista, de ultrapassado e até de faccioso . Já recebi ameaças, diretas e indiretas, já fui colocado no "óleo", assim como Wesley , e fui tentado a considerar as praças, presídios e hospitais também como "minha paróquia". Já sofri muito por não concordar com a mercantilização do evangelho. Não consigo aceitar o desprezo pelas palavras do Senhor Jesus: "...o que de graça recebestes, de graça dai..."(Mt.10:8). Não aceito passivamente a rejeição escandalosa das palavras do profeta Isaias : "Ó vós todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro,vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem prêço, vinho e leite." (Is.55:1). O tempo passou. Me sinto cansado. Resignado, já considerei a possibilidade de depor minhas armas. Às vezes sinto-me pregando no deserto , remando contra a maré. Com o coração sangrando assisto, impotente, o comércio das coisas sagradas. Me vejo sem forças para lutar contra a desgraça do cristianismo "gospealizado". Não consigo fingir que não estou vendo nada. Não consigo aceitar na contextualização uma justificativa honesta para o estado lamentável das coisas. Gente que eu julgava forte, centrada, companheiros de caminhada, vejo imiscuir-se na maquinaria eclesiástica da atualidade com medo da falta de popularidade. Gente que sacrifica a verdade no altar da tolerância. Em nossos encontros, salvo felizes exceções, passamos a maior parte do tempo azeitando a máquina infernal do tal "mercado gospel", quando fazemos propaganda gratuita desse nicho fonográfico. Tornamo-nos massa de manobra da falta de escrúpulos do tal "mercado" de música "gospel" .Segundo a "ABPD" (Associação Brasileira de Produtores de Disco), o mercado gospel movimenta R$.1.bilhão por ano no país. Eis a prova de qual é a verdadeira "adoração" dessa gente : MAMOM .
Quando menino, li a biografia de Albert Schweitzer, e me emocionava em ver como um ser humano pode ser tão nobre. Até hoje me emociono ao ler sobre um homem como êste, do qual o mundo, de fato, não era digno.(Heb.11:38). Pastor protestante, doutorado quatro (4) vezes (música, teologia, filosofia e medicina), tornou-se o maior intérprete de Johann Sebastian Bach . O dinheiro que ganhava com a interpretação da música secular, servia para sustentar sua obra de assistência social na África Equatorial Francesa (Lambarene), onde gastou sua vida servindo a Deus e amando ao próximo. Prêmio Nobel da Paz, não era um músico "pé de rato" feito os que vemos por aí animando as liturgias vazias dos espaços religiosos . Era um doutor em música. Poderia ter se enveredado pela via fácil de produzir "louvores", e com isso tornar-se milionário. Ético, bíblico, gente séria, preferiu usar seu talento na música secular, e o produto desse trabalho digno, investiu no socorro aos necessitados. Acho mais ético ser , por exemplo, como Cesar Menotti e Fabiano, dupla sertaneja de sucesso, crentes batistas fiéis, que se recusam a "viver" da venda de louvor cantado. Ao contrário, parte do produto de seus "shows" pelo país, serve para sustentar o Hospital do Câncer de Barretos, por exemplo. O "louvor" nunca pode ser vendido. Charles Wesley produziu centenas de hinos que não eram comercializados. Por outro lado, seu irmão John Wesley escreveu centenas de livros, cujo produto financeiro servia para socorrer os necessitados. Ao morrer, segundo um de seus biógrafos, John Wesley deixou: "duas colheres, uma chaleira de prata e um casaco velho". Quanta diferença dos atuais "artistas gospel" metidos a besta, que sobem nos palcos armados nas igrejas de hoje ! Quantos holofotes acesos para tanta mediocridade ! Reconheço, há , de fato, alguns poucos irmãos sérios, gente salva, que gravam seus CD´s com hinos de louvores a Deus,até com qualidade técnica. Não há pecado, se não vivem disso. Embora o risco de quebrar a linha tênue existente entre louvor, soberba e dinheiro, seja enorme, creio que há gente séria operando nesta área. Fazem a exceção . Aqui e acolá vejo gente séria se levantando , e com razão, contra o evangelho da confissão positiva e seus protagonistas. Contudo, observo que são poucos os que estão atentos ao ecumenismo musical que se instalou em nossas comunidades sob o manto da adoração. Sinceramente, não vejo diferença alguma entre Benny Hinn, Jorge Tadeu, Mike Murdock, Morris Cerrullo, Silas Malafaia, Waldemiro Santiago, Edir Macedo, R.R.Soares, Gretchen, Diante do Trono, Cassiane, Ministério Apascentar, Banda Catedral, Aline Barros, Cristina Mel, o Profeta da Nação,o "patriarca" René Terra Nova , e todos os demais, de menor expressão, mercadores do evangelho, sejam cantores ou pregadores. Os interioranos diriam que são todos "farinha do mesmo saco". É gente que, no dizer de Judas , "infiltrou-se" no nosso meio (vs.4) e participa "descaradamente de nossas festas fraternas" (vs.12) . Mas , "ai deles porque enveredaram pela estrada de Caim; por causa do lucro se entregaram às aberrações de Balaão...!"(vs.11) .
Diante desse quadro doentio, quero ser chamado de crente. Passei a abominar a alcunha de "evangélico". Houve um tempo em que os crentes eram chamados de "bodes" pelos católicos romanos. Prefiro voltar a ser chamado de "bode" a compactuar com esse cristianismo "gospealizado" . Sinto náuseas quando ouço a pobreza artística dos cânticos "gospel". É um canto de conteúdo raso, de melodia sofrível, na maioria das vezes horizontal, tratando de relacionamentos interpessoais, tosco em sua poesia, e, boa parte das vezes, cantado (no disco) por semitonados . O timbre dessa gente é irritante. São , na verdade, mantras repetidos à exaustão, como se o Criador fosse sensibilizar-se pela repetição frenética de frases de efeito (Mat.6: 7) . Ouvindo essa gente, me lembro da saudosa dupla sertaneja "Tião Carreiro e Pardinho", cantando a música "Consagração", onde tem o seguinte trecho:
"...entraram berrando que nem uma sereia,
umas modas gritadas que doia na orelha
pois pensou que com berro nós já desnorteia
falaram burrada uma hora e meia
cantavam dançando igual porca na peia..."
É curioso observar o auto-encantamento dessa gente gospealizada. Fazem dos púlpitos, palcos para a propaganda de sua "obra". Não se acanham em fazer da reunião dos salvos sua feira de comércio da "adoração". É uma confusão delirante de meios e fins que tem bloqueado a capacidade de discernimento dos crentes. Há um interesse de "forças estranhas" por trás de tudo isso .
Se o remanescente fiel do povo de Deus não tomar uma posição firme em defesa do Evangelho, a exemplo do apóstolo Paulo (Fp.1: 17) , a resposta para a pergunta feita pelo Senhor Jesus em Lucas 18: 8 , será : N Ã O !
A liderança precisa ler com atenção textos como :
"Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães
mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados,
e amam o tosquenejar.E estes cães são gulosos, não se podem
fartar; e eles são pastores que nada compreendem. Todos eles
se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância , cada
um por sua parte." (Is.56:10 e 11)

"E isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertardes
do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós
do que quando aceitamos a fé." (Rom.13:11)

Não vai demorar muito e as igrejas estarão cantando em suas reuniões solenes :
"HOJE É FESTA AQUI NA MINHA IGRÊ, PODE APARECER VAI ROLAR...." (Latino)
Que Deus tenha misericórdia de nós .

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