quarta-feira, 11 de maio de 2011

SÍNDROME DE LÓ

"Dos males o menor". Esta expressão quer dizer que quando estamos numa "sinuca de bico", tendo que decidir entre duas coisas ruins, devemos optar pela menos ruim. Aparentemente seria uma medida inteligente. O curioso é que tais situações na vida são muito raras. O mais comum é sermos vitimados de uma espécie de ilusão de ótica, enxergando problemas onde eles não existem,ou maximizando desnecessáriamente situações passíveis de fácil resolução. É nosso costume gastar energia com nossos "moinhos de vento". Foi mais ou menos assim que aconteceu com Ló . O livro de Genesis, capítulo 19, relata a história da visita de dois anjos à casa do sobrinho de Abraão. Homem algum jamais pôde atentar contra um anjo enviado por Deus (II Pedro 2:11) . Entretanto, Ló decidiu cometer a loucura de oferecer suas filhas virgens para serem abusadas , aparentemente tentando proteger os anjos . Aquele episódio histórico pode trazer lições para a igreja evangélica de nossos dias .
Já não é de hoje que boa parte das igrejas evangélicas, perdeu a visão clara , o foco, a missão, o rumo, o alvo, a razão de ser de sua existência .Salta aos olhos a disputa pelo "poder" . Há uma luta pela "clientela". O crescimento a qualquer custo virou obcessão . A mensagem foi desfigurada. Cristo saiu de cena, dando lugar ao homem e suas necessidades prementes . Nessa batalha insana, o oferecimento de vantagens das mais variegadas naturezas, desafiam a criatividade dos negociantes do evangelho moderno (II Pedro 2: 3) . Encontros, passeios, "shows", CD´s, eventos dos mais variados tipos e as campanhas mais mirabolantes que a mente humana pode criar, ditam a regra da igreja evangélica de nossos dias . A Palavra de Deus tornou-se apenas um detalhe a mais. A arma mais poderosa, o "marketing" mais bombástico, a estratégia mais bem-sucedida dos cleros organizados na busca das multidões, têm sido os famigerados "MILAGRES". Nem os verdadeiros milagres, aquelas intervenções extraordinárias, sem explicação científica, ocorridos nos tempos bíblicos, tinham o condão de produzir fé salvadora. A crença em um milagre se esgota no reconhecimento do inusitado, do espetacular. Até os demônios creem e estremecem , nos informa o escritor sagrado (Tg.2:19) . Nunca na história do cristianismo se falou tanto em "milagres". Como estas intervenções especiais do Criador no curso da história dos seres humanos são esporádicas e pontuais, as lideranças trataram de desenhar um modêlo anti-bíblico de apreensão de uma autoridade e poder que nunca lhes foram concedidos, com vistas a determinarem, a seu bel prazer , o mover da mão de Deus prá lá e pra cá . A agenda do Espírito Santo passou a ser controlada pelos púlpitos modernos. Assim os ditos "milagres" passaram a ser o centro e a razão das pregações na maioria das congregações dos crentes . Todos sabemos que um "milagre" é uma intervenção sobrenatural, divina, de modo que aquilo que é impossível à compreensão humana, torna-se realidade incontestável. É , portanto, ação divina absolutamente excepcional e indeterminada por nós . Um cego tornar a enxergar; um coxo passar a andar; um morto ressuscitar . Coisas desse tipo. Cura de prisão de ventre; cura de constipação intestinal (enfezado); cura de dor de dente; cachaceiro parar de beber; marido voltar pra casa; filho parar de cheirar cocaina e fumar maconha; ganhar uma geladeira; encontrar o cachorrinho perdido; passar no vestibular; ser promovido no emprego; conseguir serviço; montar um negócio; conseguir um empréstimo; arrumar namorado; comprar um carro, e coisas assim, NÃO SÃO MILAGRES . Isso são coisas que fazem parte da experiência de qualquer catimbozeiro. As famosas "campanhas" que visam a realização dos sonhos e problemas corriqueiros próprios da vida, prometendo "milagres" a granel nesta área, são manifestações ifantis de um cristianismo anêmico dos que manejam mal a Palavra da Verdade (I Tm.2:15), e uma estratégia desonesta e pecaminosa dos que almejam alcançar a satisfação de projetos pessoais, pela via da manipulação da conciência de pessoas simples . A bíblia é repleta de exemplos dando conta de que a realização de sinais não produzem salvação. Não há registro de que houve salvação para a "grande multidão" que observou o espetáculo de Betesda (João 5: 1 a 9). Ao contrário, houve recrudescimento das tensões . Observe a "grande multidão" (cerca de 15.000 pessoas) que seguia a Jesus atestando suas ações curadoras e manifestações de amor fora da compeensão humana (João 6: 2). Essa mesma "multidão" , foi aquela que decidiu abandoná-lo (João 6: 60) quando o Senhor lhes falou do "pão vivo que desceu dos céus". Na parábola do semeador (Lucas 8: 4 a 15) , o Senhor Jesus fala da semente que cai à beira do caminho. No versículo doze (12) (Lc.8:12), Jesus fala de um grupo que CRÊ mas não se salva . CRER em milagres, portanto, não implica necessáriamente em salvação. As multidões sempre pedem "sinal". O "sinal", disse o Senhor Jesus , é Ele mesmo (Mt.12: 39 e 40). O homem rico (Lucas 16: 27 a 31) queria que Abraão produzisse "sinais" com vistas à salvação de seus parentes. A resposta foi: NÃO . Ouçam a Palavra de Deus (Moisés e os Profetas)-Lucas 16: 29 a 31 . O apóstolo Paulo deixa absolutamente claro que os "sinais" (milagres) não resultam em salvação da alma, quando afirma que os "...judeus pedem sinal..."(I Co.1:22), "...mas nós pregamos a Cristo crucificado que é escândalo..." para os caçadores de milagres (sinais)-I Co.1:23 . Quantos dos dez (10) leprozos voltaram glorificando a Deus ? (Lc.17:11 a 19).
Foram poucas as pessoas elogiadas por Jesus em seu ministério terreno (o centurião de Cafarnaum, o publicano Zaqueu, Maria de Betânia, Maria Madalena e João Batista). Contudo, ninguém recebeu maiores elogios do que João Batista, a respeito de quem Jesus disse: "Mas que fostes ver ? um profeta ? sim, vos digo eu, e muito mais do que um profeta. Porque é êste de quem está escrito: Eis que diante da tua face envio meu anjo, que preparará diante de ti o teu caminho. Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista..." (Mt.11: 9 a 11). Poisbém, o maior de todos os profetas (Lc.7:28), João Batista, nunca realizou qualquer "milagre" (sinal)- João 10: 41 . Ao lermos com atenção o livro do profeta Jonas, atestamos que a mensagem de salvação independe da realização de "sinais". O milagre realizado por Jesus favorecendo o cego de nascença (João cap.9), não produziu fé salvífica nos que presenciaram a maravilha realizada. Tem sido assim ao longo da história do cristianismo. A realização de "milagres" atrai multidões, mas não produz como resultado, necessáriamente, salvação de almas. Paulo escrevendo aos Efésios no capítulo 3, diz: "... os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo PELO EVANGELHO ". (Ef.3:6)..."a mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, POR MEIO DO EVANGELHO, as riquezas incompreensíveis de Cristo".(Ef.3:8)..."para que agora, PELA IGREJA, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades dos céus."(Ef.3:10) . Quando o apóstolo Paulo falava que não haverá salvação se NÃO PREGARMOS O EVANGELHO (Rm.10: 13 e 14) , falava sério ! Jesus Cristo não determinou : " Ide por todo mundo e fazei milagres...". Não ! Esta não foi a ordem (Mc.16:15) . Os "sinais" , esporádicos e independentes de nosso ufanismo, são incontestáveis ao longo da história . Faz parte da experiência de qualquer crente . Entretanto, não ocorrem aos borbotões, como querem alguns inocentes, e o interesse particular de finórios. Também o dom espiritual de operação de maravilhas (milagres-I Co.12: 10), para o desespero de tradicionais fundamentalistas, é atualissimo. Contudo, êste socorro dado por Deus por amor aos seres humanos, usando alguns de seus servos como via, nada têm a ver com a missão da igreja. Os "sinais", quando ocorrem, a juizo de Deus, sem comando da capacidade volitiva do homem, são coadjuvantes na proclamação (Mc.16: 17 e 18), sem garantia alguma de sucesso no resultado que salte para a vida eterna . O crente dotado das capacidades especiais é sempre veículo, e nunca produtor de bênção . Não está no seu comando realizar nada. Sua palavra, sua gesticulação, seu misancene, suas emoções e pirotecnia não produzirão efeito algum no necessitado, se Deus não quizer usá-lo naquele momento e naquele caso específico. O "poder" nunca é do homem.
A igreja evangélica hoje, salvo raras exceções, está contaminada pela "síndrome de Ló". Num clima indisfarçável de competição, para atrair as multidões, deixou de pregar o evangelho e passou a priorizar os tais "milagres". O ítem principal da avaliação de um ministério passou a ser quanto ele arrecada por mês. O "milagre", então, passou a compor a estratégia para se arrecadar mais dinheiro. Na verdade, não há preocupação alguma com o socorro de ninguém. A meta é atrair mais gente com a propaganda da realização de sinais. Pouco importa se é uma dor de barriga, uma verruga,ou uma dor nas costas. Por tal razão vemos os tais "milagres" em todos os espaços religiosos, desde o centro de macumba até o catolicismo carismático. Descobriram a "pólvora". O milionário Edir Macedo, o Waldemiro Santiago, o R.R.Soares, Malafaia e Cia. precisam ser imitados. Dá certo ! A promessa de realização de "milagres" é o "marketing" perfeito .
Para arrecadar bastante, é preciso ter bastante gente desgraçada agregada. Para agregar bastante gente é preciso oferecer vantagens a essa gente. Então decidiu-se por alardear que os espaços religiosos realizam sonhos. Há sempre um clérigo de plantão que sabe o segrêdo, a manha, o macete , de como arrancar um favor (milagre) das mãos do Criador . A mensagem da Cruz, que é loucura para os que perecem (I Co.1:18), não atrai ninguém , não faz dinheiro entrar nos cofres, e , portanto, destrói ministérios .
Minha oração é que Deus mantenha sempre os 7.000 que não se dobrarão a Baal. Que homens de Deus se levantem para corrigir os rumos da igreja .
Que Deus tenha misericórdia de nós .

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